Brasília viveu um dezembro atípico em 2025, com chuvas intensas e persistentes que já acumularam 170 milímetros em apenas dez dias — o que representa 66% da média mensal de 257 mm. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) manteve alerta laranja por mais de 48 horas, alertando para riscos de alagamentos e deslizamentos em áreas de encosta. A temperatura oscilou entre 18°C e 26°C, mas a sensação térmica foi de frio, especialmente à noite, com umidade relativa do ar chegando a 95%. O clima, típico do verão brasiliense, surpreendeu até os mais antigos: dezembro foi 0,6°C mais frio que a média histórica, segundo dados do Tempo Limpo.
Alerta laranja e os primeiros impactos
No dia 5 de dezembro, o Inmet emitiu um alerta de nível laranja — o segundo mais grave — para todo o Distrito Federal. A previsão? Chuvas de 30 a 60 mm por hora, ou até 100 mm em 24 horas. A medida foi tomada após observações de granizo em Águas Claras e enxurradas em Taguatinga. Moradores da QN 15, em Ceilândia, relataram que a água subiu até os tornozelos em menos de 20 minutos. "Foi como se a cidade tivesse aberto as torneiras", disse Maria Silva, moradora há 22 anos na região. A Defesa Civil já registrou 14 ocorrências de alagamentos, duas quedas de árvores e um deslizamento leve na Estrada Parque Taguatinga.
Chuva acima da média: um padrão recorrente?
Embora o verão em Brasília sempre traga temporais, o volume acumulado em 2025 chama atenção. Em 2020, por exemplo, dezembro chegou a 280 mm — mas isso aconteceu em 31 dias. Em 2025, a metade da média caiu em menos de uma semana. "Não é um fenômeno isolado", explica o meteorologista Roberto Mendes, da Universidade de Brasília. "A combinação de umidade vinda da Amazônia com frentes frias mais fortes que o normal está criando um padrão de chuvas concentradas, com menos dias de sol e mais riscos de inundação." A cidade, construída em um planalto a 1.136 metros de altitude, tem drenagem deficiente em áreas mais antigas, o que agrava os problemas.
Previsão para os próximos dias: ainda não é hora de respirar
Até o dia 12 de dezembro, o Inmet mantém a previsão de chuvas isoladas, com possibilidade de trovoadas e rajadas de vento. O Brasília terá mínima de 18°C e máxima de 26°C, com umidade relativa do ar em torno de 82%. A previsão de 15 dias indica que a instabilidade persistirá até o fim da semana. "Não há previsão de parada imediata", afirma a chefe da equipe de previsão do Inmet, Carla Ribeiro. "A massa de ar úmido ainda está muito ativa. A recomendação continua: evitem áreas de risco, não atravessem ruas alagadas, e fiquem longe de árvores durante tempestades."
Impacto na vida cotidiana e na infraestrutura
Os efeitos vão além das enchentes. O aeroporto de Brasília registrou 17 atrasos e 5 cancelamentos entre os dias 7 e 10. Linhas de ônibus da SuperVia tiveram alterações em 12 rotas devido a alagamentos. Escolas da rede pública de Taguatinga e Samambaia suspenderam atividades presenciais por um dia. O sistema de esgoto, já sobrecarregado, registrou cinco transbordamentos em bairros como Gama e Vicente Pires. "A cidade não foi projetada para este volume de chuva em tão pouco tempo", diz o engenheiro civil Daniel Almeida, que trabalha com drenagem urbana desde 2010. "Temos infraestrutura de 1960 funcionando para uma população de 3 milhões. É um problema estrutural, não climático apenas."
Como a população está se adaptando?
Apesar do caos, há sinais de resiliência. Comunidades de Ceilândia criaram grupos de WhatsApp para avisar sobre pontos de alagamento em tempo real. O aplicativo "Brasília Segura" — lançado em 2024 — registrou 80 mil acessos em 72 horas. Moradores estão usando sacos de areia, elevando móveis e mantendo carros em terrenos altos. "A gente aprendeu com o que aconteceu em 2021", conta o aposentado José da Silva, 71 anos, que perdeu seu carro em uma enchente. "Hoje, tenho um kit de emergência: lanterna, pilhas, água e um rádio."
Conclusão: um novo normal?
As mudanças climáticas estão transformando o padrão de chuvas em Brasília. O que antes era um fenômeno de poucos dias intensos agora se estende por semanas. A cidade, que já enfrenta crise hídrica em outras épocas do ano, agora lida com excesso. "É paradoxal", resume a climatologista Lúcia Ferreira, da UnB. "Temos que aprender a conviver com os dois extremos: seca e inundação. E isso exige planejamento urbano, não apenas reação."
Frequently Asked Questions
Por que Brasília está recebendo tanta chuva agora?
A combinação de uma massa de ar úmido vinda da Amazônia com frentes frias mais fortes que o normal está causando chuvas intensas e concentradas. Embora o verão sempre traga temporais, a frequência e o volume em 2025 estão acima da média histórica, com 66% da chuva esperada para todo o mês já caída em apenas 10 dias.
Quais áreas de Brasília estão mais vulneráveis a alagamentos?
Regiões como Ceilândia, Taguatinga, Gama, Samambaia e Vicente Pires são as mais afetadas, especialmente onde a drenagem é antiga ou insuficiente. Áreas próximas a córregos e baixadas, como a QN 15 e o entorno da Estrada Parque Taguatinga, registraram os piores alagamentos. A falta de manutenção dos canais de escoamento agrava o problema.
O alerta laranja do Inmet ainda está em vigor?
O alerta laranja foi emitido entre 5 e 7 de dezembro, mas a previsão para os próximos dias — até 12 de dezembro — mantém condições de chuva intensa com trovoadas. Embora o alerta formal tenha expirado, o Inmet recomenda manter a cautela, pois os riscos de enchentes e deslizamentos ainda são altos.
Como a infraestrutura da cidade está respondendo?
A infraestrutura de drenagem de Brasília, muitas vezes projetada na década de 1960, não suporta o volume atual de chuva. Já foram registrados cinco transbordamentos de esgoto e atrasos no transporte público. A Defesa Civil e a Secretaria de Obras estão realizando limpezas emergenciais, mas especialistas apontam que soluções duradouras exigem investimentos em novos sistemas de escoamento e recuperação de córregos.
A temperatura mais baixa é normal para dezembro em Brasília?
Não é comum, mas não é inédito. Dezembro de 2025 foi 0,6°C mais frio que a média histórica, segundo o Tempo Limpo. Esse resfriamento está ligado à cobertura nublada persistente e à umidade elevada, que impedem o aquecimento diurno. É um sinal de que os padrões climáticos estão mudando, com verões mais úmidos e menos quentes.
O que os moradores podem fazer para se proteger?
Evitar áreas de risco, não atravessar ruas alagadas, manter carros em terrenos elevados e ter um kit de emergência com água, lanterna, pilhas e rádio são medidas essenciais. Grupos comunitários de WhatsApp e o app "Brasília Segura" ajudam a compartilhar alertas em tempo real. A prevenção, hoje, é mais eficaz que a reação.