No dia 27 de outubro de 2024, os paraibanos foram às urnas para decidir quem governará João Pessoa e Campina Grande nos próximos quatro anos. Na capital, a disputa foi entre Cícero Lucena, do Partido Progressista (PP), e Marcelo Queiroga, do Partido Liberal (PL). Já em Campina Grande, a batalha foi entre Bruno Cunha Lima, da União Brasil, e o atual prefeito, candidato pelo Podemos. O segundo turno, marcado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como parte do calendário eleitoral nacional, foi necessário porque nenhum dos candidatos alcançou a maioria absoluta de votos válidos no primeiro turno — uma exigência da Constituição Federal para municípios com mais de 200 mil eleitores.
João Pessoa: O equilíbrio entre experiência e renovação
Cícero Lucena, ex-deputado federal e ex-prefeito de João Pessoa entre 2009 e 2012, chegou ao segundo turno com 49,16% dos votos válidos — quase a maioria absoluta, mas não suficiente para evitar a segunda rodada. Marcelo Queiroga, médico e ex-secretário de Saúde do estado, surpreendeu ao conquistar 21,77% dos votos, superando candidatos com mais estrutura partidária. A diferença entre os dois foi de quase 27 pontos percentuais, mas o fato de Lucena não ter alcançado 50% + 1 voto foi o que definiu o desfecho.
Na manhã do dia 27, as filas nas seções eleitorais eram curtas. Segundo a TV Senado, a média de tempo para votar foi de apenas 30 segundos. Alguns eleitores saíram em menos de 20. A tranquilidade foi um dos destaques: nenhum incidente grave foi registrado em nenhuma das 223 cidades da Paraíba. A apuração terminou antes das 19h, como aconteceu em 2020 — um sinal de eficiência logística.
Campina Grande: A cidade que nunca dorme, nem nas eleições
Enquanto João Pessoa vivia seu duelo político, Campina Grande — conhecida como a "terra do maior São João do mundo" — enfrentava sua própria batalha. Bruno Cunha Lima, que liderou o primeiro turno com 48,98% dos votos válidos, estava a menos de dois pontos de vencer no primeiro turno. O atual prefeito, candidato à reeleição pelo Podemos, teve 25,93%, uma queda expressiva em relação a 2020, quando conquistou mais de 30%. A abstenção na cidade foi de cerca de 20%, um dos maiores índices do estado, o que ajudou a diluir os votos e forçar o segundo turno.
“Aqui, o eleitor não se esquece do que o prefeito fez — ou deixou de fazer”, disse uma aposentada de 68 anos, que votou na UEPB, após passar por um dos principais hospitais da cidade. “O serviço de saúde piorou. O lixo acumula nas ruas do bairro onde moro. Não é só política. É vida.”
Por que o segundo turno importa — e como ele muda a Paraíba
O segundo turno não é apenas uma regra técnica. É um termômetro da polarização política. Em João Pessoa, a disputa entre Lucena e Queiroga representa dois modelos de gestão: o político experiente, ligado à tradição do PP, e o técnico, com discurso de renovação e proximidade com o atual governo estadual. Em Campina Grande, a luta é entre a continuidade e a mudança — mas com um detalhe: o atual prefeito não conseguiu unir a base aliada. O apoio do governador foi fragmentado, e isso pesou.
A deputada estadual Camila Toscano, em entrevista ao ParaibaOnline em novembro de 2024, afirmou: “Espero, sinceramente, que no segundo turno todos estejam juntos. A continuidade não é boa para a Paraíba, e o atual governo não merece seguir.” Ela não apoiou nenhum candidato diretamente, mas seu recado foi claro: a oposição precisa se unir, mesmo que não tenha conseguido isso no primeiro turno.
O que vem depois da votação
As prestações de contas dos candidatos ao segundo turno devem ser entregues ao Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba (TRE-PB) até 16 de novembro de 2024. Qualquer irregularidade pode levar à cassação da candidatura — mesmo que o candidato já tenha sido eleito. E os eleitores que não votaram têm prazos rígidos: até 5 de dezembro de 2024 para justificar a ausência no primeiro turno, e até 7 de janeiro de 2025 para o segundo. Quem não regularizar a situação pode ter o título de eleitor cancelado — e perder o direito a empréstimos, passaporte e até matrícula em universidades públicas.
Além disso, o resultado dessas eleições pode ter efeitos em cascata. João Pessoa e Campina Grande concentram mais de 40% da população da Paraíba. Quem vencer, governará não só suas cidades, mas também influenciará o equilíbrio de poder no estado — especialmente em 2026, quando haverá eleições para governador e senador.
Um cenário que pode se repetir
Em 2024, 51 municípios brasileiros foram à segunda rodada — 15 delas capitais. Em todas, a regra foi a mesma: nenhum candidato atingiu 50% + 1 voto. Isso não é coincidência. É o reflexo de um eleitorado mais fragmentado, menos fiel a legendas e mais exigente com resultados. Em João Pessoa, Cícero Lucena é um nome conhecido, mas não é mais sinônimo de eficiência. Marcelo Queiroga é novo, mas tem o peso da máquina estadual. Em Campina Grande, Bruno Cunha Lima tem a vantagem da liderança no primeiro turno, mas enfrenta a desconfiança de quem lembra das promessas não cumpridas.
Aqui está a verdade: não se trata apenas de quem vai governar. É sobre quem vai conseguir fazer o que foi prometido — e se o eleitor vai acreditar de novo.
Frequently Asked Questions
Por que Cícero Lucena precisou ir ao segundo turno se teve quase 50% dos votos?
Porque a lei exige maioria absoluta — ou seja, mais de 50% dos votos válidos — para vencer no primeiro turno. Lucena teve 49,16%, o que é muito próximo, mas não suficiente. A regra vale para municípios com mais de 200 mil eleitores, como João Pessoa, e está prevista na Resolução TSE nº 23.677/2021. Mesmo com quase metade do eleitorado, ele precisou da segunda rodada.
Qual foi a taxa de abstenção em Campina Grande e por que isso importa?
A abstenção em Campina Grande no primeiro turno foi de cerca de 20%, uma das mais altas do estado. Isso significa que quase um em cada cinco eleitores não compareceu. Essa ausência diluiu os votos entre os candidatos, impedindo que qualquer um chegasse à maioria absoluta. Em cidades grandes, mesmo uma abstenção modesta pode mudar o resultado final.
O que acontece se um candidato não entregar a prestação de contas até 16 de novembro?
Se a prestação de contas não for entregue até a data limite, o candidato pode ter seu registro cassado, mesmo que já tenha sido eleito. O TRE-PB pode anular a vitória e impor multas. Além disso, o partido envolvido pode perder acesso ao fundo partidário e à propaganda gratuita. É uma das penalidades mais severas da Justiça Eleitoral.
Como a eleição em João Pessoa pode afetar as eleições estaduais de 2026?
João Pessoa é o centro político da Paraíba. Quem vencer a prefeitura ganha influência sobre a máquina pública, o acesso a recursos federais e a visibilidade da mídia. Um prefeito forte pode se tornar candidato a governador em 2026 — ou apoiar alguém com mais peso. A vitória de Lucena ou Queiroga pode definir qual bloco político liderará o estado nos próximos anos.